14 de set. de 2011

Desmanche (eufemismo para ferro-velho mesmo) - 1


Liguei hoje para uma loja de autopeças especializada em picapes para encontrar umas peças para minha C20. O atendente me informou que eles só trabalham com peças para picape. Insisto que a C20 é uma camioneta, uma picape, que a homônima americana precedeu a Silverado lá e aqui e que foi produzida até 1996.

Ele me interrompe dizendo que picape é Frontier, Hilux, L200, Ranger etc. e recomenda procurar um ferro-velho.

Daí cai a ficha: o tempo não para! Estou falando de 15 anos atrás como se fosse hoje! Desligo e ligo para o desmanche.

Para além do discurso do roubo de carros e do mercado de autopeças obtidas por esse expediente, esses lugares míticos são verdadeiros túneis do tempo.

É melhor telefonar, porque se eu entro num desmanche posso ficar por horas ou até dias...

Não atravesso a cidade para visitar aquele parente querido ou para assistir aquela peça teatral em final de temporada. Mas a descoberta de um pátio com carros jogados a esmo me faz atravessar três municípios em pleno caos urbano (isso já aconteceu muitas vezes). Talvez também seja um sintoma para quem lê esse blog.

Certa vez, em Itapevi-SP, estava atrás de algumas peças quando o vendedor, geralmente eles são tão atenciosos quanto sua sogra, saiu andando para perto de uma sucata e apontou o motor do limpador do parabrisa. Do lado do jaz automóvel um, outro jaz, ratão morto, de barriga para cima e com o cheiro característico. O vendedor, sem dúvida, cavou um buraquinho debaixo do carro mesmo e empurrou o bicho e a terra. Subiu a cabeça e me falou "R$100". Retruquei "R$70" e ele falou "vou testar procê".

Em outra oportunidade, em Parada de Taipas (SP-SP), meu deslumbre foi tanto que eu perguntei "posso tirar uma foto?". O atendente me olhou como se fosse o enfermeiro do laboratório de análises clínicas olhando para o paciente orgulhoso do material entregue. Infelizmente foi foto de celular!
 


Na famosa Ricardo Jafet (SP-SP), na década de 1980, haviam desmanches especializados - coisa rara por hoje. Só V8 - ninguém queria. Só diesel - caríssimo. Só fusca - sempre vazio de peças e cheio de gente. Em Curitiba, na beira da 116 tem um só de carros franceses. Comprei um jogo de rodas de Xsara VTS pelo mesmo preço das rodas normais, em plena viagem de férias. As levei para o passeio e estão em casa até hoje esperando um possível VTS.

O mais espantoso que adentrei funcionava numa igreja evangélica em São Mateus (SP-SP). Atrás do estrado do púlpito haviam dois diferenciais Dana, um de Dodge e outro de Opala automático (mosca albina), nas laterais, latas em geral e acima do forro dezenas de carpetes e tetos moldados, máquinas de vidro etc. O pastor me mostrava as peças e abençoava os fiéis que passavam na rua. Saí de lá com um jogo de rodas italianas da Cherokee, na mesma furação e off set do Opala (que estão ao lado das do VTS).

Mas o pior dos desmanches está em Barueri (SP-SP). Lá, não se passa do balcão. Você inquire o atendente, ele consulta o terminal de computador e te fala "tem|não tem" e "são R$52,73". Quem negocia um preço desses? O pior é que eles têm tudo, organizado num galpão de três andares e uns cem funcionários - cada um com sua caixa de ferramentas - que retiram a peça em um par de minutos. Quer dizer, eu suponho, pois a peça chega fast food. Há um caixa, que lhe emite um recibo, que é conferido por outro funcionário que lhe entrega a peça. Logo devem oferecer um delivery, se é que já não exista.

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