13 de out. de 2011

rodoviarismo careca - 19

Entusiasmo, paixão e ética

Acabei de receber de um amigo, mecânico de concessionária, mensagem de e-mail sobre  ameaça de sua demissão, resultada de sua manifestação em um fórum de entusiastas na Internet. A ameaça foi motivada por ele ter fornecido informações técnicas sobre um carro, há muito, fora de produção. Envia tal missiva para alertar os destinatários trabalhadores do setor automotivo sobre as consequências desse tipo de manifestação.

É uma pena a insensibilidade de algumas empresas desse setor à promoção positiva que pode se desdobrar desse tipo de manifestação em fóruns de discussão. Ainda mais quando alguém pode escrever em nome dela, ajudando, ensinando, orientando seu potencial comprador.


Quantos automóveis atuais são vendidos aos entusiastas dos equivalentes de marca e modelo mais antigos? Como ignorar essa eficiente vitrine? Não seria o caso de infiltrar técnicos ou incentivá-los em compartilhar informações em fóruns em detrimento de fiscalizá-los e puni-los? Uma iniciativa inovadora e que acarretaria em votos de atenção, dedicação e responsabilidade por parte das empresas.

Mais grave ainda é a contradição decorrente ao cercear seus valiosos trabalhadores de uma vida privada e esperar que eles se engajem qualitativamente, que vistam o macacão da marca. Afinal, quem o incita a vesti-lo também o obriga a despi-lo ao ameaçar ou demitir. Portanto, basta que o entusiasmo vire paixão, condição quase inevitável. Afinal, qual é o limite entre paixão e entusiasmo?

Sobre essa discussão não tenho nada a acrescentar ao que já havia escrito Paulo Keller e Bob Sharp no AutoEntusiastas.

Mas sobre ética, é obrigação toda divulgação de informações que deveriam ser de domínio público, tanto pelo motivo do valor arrecadado da venda do carro (ao público) ter sido a fonte de pagamento de todo o projeto, quanto pelo fato de que o conhecimento para projeção de uma carro ser fruto do esforços da educação básica à superior, de escolas públicas e privadas, do entusiasmo de pesquisadores e técnicos e do orçamento das famílias no custeio da educação de seus jovens.

 Foto: Grupo CAOA - conclua se é uma ironia

Portanto, as empresas são meras portadoras do conhecimento, que é humano, da humanidade. Quando adotam a postura de detentoras, punindo funcionários que repassam essas mesmas informações (no caso, até já vencidas), isso não passa de uma impostura. A postura de um impostor.

Antecipo que não sou ignorante às leis de propriedade intelectual vigentes, do mesmo jeito que não ignoro o bom-senso de se questionar se as leis não tenham limites bem determinados por um contrato social firmado no marco de direitos humanos básicos, como o de pensar e fazer pensar.

O Brasil é mundialmente citado como referência à quebra de patentes de alguns remédios justamente por suas importâncias sociais.

o termo "rodoviarismo careca" é um plágio descarado, travestido de homenagem, do termo usado pelo Prof. Dr. Lagonegro (FAU-USP). O termo careca faz alusão ao pneu careca, condição necessária para o desenvolvimento do rodoviarismo nos países pobres.

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